Dirossauro (Crocodilomorfo) com 66 Ma descoberto no Namibe, Angola
Uma equipa internacional de paleontólogos, e com participação de investigadores da GeoBioTec, Departamento de Ciências da Terra- FCT Universidade Nova de Lisboa, Museu da Lourinhã, Università di Pisa, Universidad de Zaragoza, Universidad Complutense de Madrid, Universidade Agostinho Neto (Angola) acaba de descrever um novo fóssil de crocodilomorfo marinho com cerca de 66 Milhões de anos. O artigo faz parte da tese de doutoramento por Arthur Maréchal e com base num fóssil descoberto por Octávio Mateus em junho de 2017 em Bentiaba, província do Namibe, Angola.
O espécime, teria cerca de 5 metros de comprimento, pertence à família Dyrosauridae, um grupo de répteis marinhos de focinho comprido que sobreviveu à extinção em massa que acabou com os dinossauros há 66 milhões de anos. Apesar de viverem sobretudo em águas costeiras, estes predadores eram excelentes nadadores, caçando peixes e outros animais marinhos.
O fóssil — parte posterior do crânio e um dente — foi encontrado numa região já era conhecida pela abundância de fósseis de mosassauros, tartarugas e plesiossauros, mas o registo de crocodilomorfos marinhos em Angola era muito mais escasso.
Aspeto quase imperceptível do fóssil quando foi achado (foto: O. Mateus) |
Namibe Angola (foto por . O. Mateus) |
As análises morfológicas e filogenéticas mostram que o exemplar pertence à subfamília Hyposaurinae, mas não a uma espécie previamente conhecida, apresentando uma combinação única de características.
Os dirossaurídeos formam um clado extinto de neossuquianos com ampla distribuição temporal e excelente sucesso evolutivo. Estes crocodiliformes longirostrinos são conhecidos desde o Cenomaniano até ao Eocénico e alguns taxónes sobreviveram à crise que ocorreu durante a transição do Cretácico para o Paleogénico. Provavelmente, os dirossaurídeos desenvolveram hábitos de locomoção e alimentação que os favoreceram em relação aos répteis marinhos e de água doce para sobreviver a um dos cinco eventos de extinção em massa do passado geológico.
A ocorrência de restos de dirossaurídeos sugere uma ampla distribuição geográfica, incluindo o Norte de África, América do Norte, América do Sul, Ásia e Europa.
Os estudos filogenéticos realizados nas últimas décadas são úteis para compreender melhor a evolução deste clado e o seu padrão de distribuição revelou uma origem no Norte de África e vários padrões de propagação que seguiram.
Muitos vestígios são provenientes da África, em particular de Marrocos, Mali, Tunísia, Sudão, Níger e Angola. Neste artigo, relatamos a ocorrência de um novo vestígio de dirossaurídeo recentemente encontrado no sítio de Bentiaba (Angola), o que aumenta o número de espécimes africanos.
Além de revelar mais sobre a biodiversidade marinha pré-extinção, este achado coloca Angola no mapa das investigações sobre a evolução e dispersão dos predadores marinhos do Cretácico. O fóssil, identificado como MGUAN-PA548, será integrado nas coleções do Museu de Geologia da Universidade Agostinho Neto, em Luanda.
Número de géneros de crocodilomorfos e de dirossaurídeos aos longo do tempo gelógico. Note-se que os dirossauros praticamente não foram afetados pela crise que extinguiu os dinossauros não avianos. |
Maréchal, A., Rotatori, F.M., Merella, M., Puértolas-Pascual, E., Sequero, C., Pereira, R., Nsungani, P., Mateus, O. (2025). A new Maastrichtian hyposaurine dyrosaurid (Crocodylomorpha) from Namibe province, Angola. Zoological Journal of the Linnean Society, 204(4), zlaf092. https://doi.org/10.1093/zoolinnean/zlaf092